Folha de Londrina Digital

Entenda oportunidades da renda fixa com a mudança na curva de juros

Se para quem pretende tomar crédito os juros futuros parecem animadores, a mudança de tendência exige mais cuidado do investidor

Clayton Castelani

São Paulo - A taxa básica de juros da economia, a Selic, permanece alta, em 13,75% ao ano. Mas outra medida importante para definir o custo do crédito ao consumidor e o rendimento de quem investe está caindo. É o juro futuro.

Se para quem pretende tomar crédito a notícia da queda soa animadora, a mudança de tendência exige mais cuidado do investidor em renda fixa na escolha da aplicação.

Especialistas garantem, porém, que o momento é ideal para buscar lucros sem abrir mão da segurança. A receita é diversificar os títulos conforme o movimento da curva de juros. Não sabe o que é isso? É menos complicado do que parece.

Antes, é importante entender o que são os juros futuros.

Na B3 (Bolsa de Valores Brasileira), os chamados contratos futuros são negociados como compromisso de compra ou de venda de um determinado ativo financeiro em um prazo previamente definido.

Os juros dessas operações tomam como referência a taxa de empréstimo com vencimento em um dia que os bancos realizam entre si para o acerto diário de caixa. Instituições financeiras são obrigadas a começar o dia com saldo positivo e, por isso, fazem essas transações.

Tais operações são realizadas por meio da emissão de CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários). É daí que vem o nome taxa DI.

Os juros dos contratos futuros têm como parâmetro a taxa DI, mas também oscilam conforme o prazo e a percepção do mercado sobre o risco de não se receber a quantia emprestada ao longo do tempo.

Quando alguém fala sobre curva de juros futuros, portanto, é provável esteja se referindo à taxa DI. Essa é a principal referência para o mercado de crédito brasileiro.

A curva de juros é a representação gráfica que mostra, dia após dia, qual foi a taxa média negociada para os contratos futuros. Para cada prazo de vencimento há uma curva.

O declínio das curvas de juros teve início no final do mês passado, após quatro meses subindo, e é mais acentuado nos contratos de médio prazo, com vencimento entre 2025 e 2030.

Essa informação é importante porque é a partir da tendência das curvas de curto e de médio prazos que o investidor definirá a melhor estratégia.

Apesar da taxa DI possuir uma apuração e função diferente da Selic, ela tende a acompanhar o valor da taxa básica da economia.

Um dos motivos para isso é que as operações realizadas diariamente entre bancos também podem ter lastro (garantia) em títulos públicos, cujos juros correspondem à variação da Selic.

O investimento em renda fixa se torna vantajoso quando alcança o maior juro real possível, que é a diferença entre a inflação e o juro contratado (nominal) no período em que o dinheiro ficou investido.

Do início de abril à segunda quinzena de julho, as curvas DIs médias subiram de cerca de 11% para aproximadamente 13,5% ao ano. Mas nas últimas três semanas elas convergiram para valores entre 11,7% e 12%.

As taxas ainda altas refletem a expectativa de que o Banco Central manterá a Selic elevada por algum tempo para garantir a queda da inflação.

Cabe notar que, embora a inflação oficial esteja em 10,07% em 12 meses, o mercado projeta uma queda para 5,5% ao ano em 2023.

Isso significa uma perspectiva de juro real elevado. Isso favorece o investimentos prefixado, ou seja, com uma taxa previamente definida com base nos juros elevados de agora. Mas é preciso cuidado.

Se para o curto prazo a vantagem dos juros é dada como certa, é preciso considerar imprevistos que possam provocar uma nova escalada da inflação.

Títulos pós-fixados são indicados para amenizar esse risco para aplicações de médio prazo (a partir de 2025) porque garantem o pagamento da inflação acumulada no momento do resgate.

“O investidor, às vezes, aposta só para a expectativa de juros altos, mas fica desprotegido caso ocorra um novo choque inflacionário”, alerta Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “Aqui no Brasil é muito complicado apostar contra a inflação.”

A explicação fica mais fácil tomando alguns exemplos práticos. O programa Tesouro Direto possui um produto chamado Tesouro Prefixado 2025. O juro pago para o resgate no vencimento é de 11,85% ao ano.

Ao fazer essa escolha, o investidor aposta que essa taxa não será superada pela inflação até 2025. É uma perspectiva consistente, uma vez que as projeções indicam declínio nos preços ao consumidor no curto prazo.

A mesma plataforma do Tesouro Nacional oferece o título pós-fixado Tesouro IPCA+ 2026. Ele combina um rendimento fixo de 5,5% ao ano com a variação da inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), para a liquidação em agosto de 2026. É a garantia de rentabilidade a médio prazo com proteção contra um choque inflacionário.

Qualquer pessoa com CPF e conta bancária pode investir por meio do Tesouro Direto, inclusive começando com valores baixos. Os dois títulos mencionados exigem aplicação mínima um pouco acima de R$ 30.

O acesso é por meio de bancos e corretoras habilitadas. O site oficial tesourodireto.com.br possui a lista de instituições, simulador e detalhes sobre as aplicações disponíveis.

O conceito de diversificação da renda fixa não se aplica exclusivamente aos produtos do Tesouro Nacional. O mercado privado possui títulos atrelados às taxas DI e Selic, ao IPCA e que mesclam opções para buscar rentabilidade em diversos tipos de cenário.

“Para aplicações até 2025, o que a gente tem recomendado é o prefixado, pois estamos com taxas [de juros] relativamente altas, falando de títulos bancários, como CDBs [Certificados de Depósitos Bancários], LCIs e LCAs [Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio]”, comenta Victor especialista de renda Valor Investimentos.

“Para até três anos é ótimo ter um investimento desse, como um CDB pagando 15% [de juros ao ano] aproximadamente”, diz. “Acima disso, eu acho mais interessante uma NTN-B.”.

NTN-B é como o mercado chama o título do Tesouro Direto indexado à inflação. É o já mencionado Tesouro IPCA +.

Para que a proposta de lucrar mesmo com o declínio da curva de juros funcione, porém, é importante respeitar os prazos estabelecidos para a liquidação do título, segundo Zucchi.

Resgates antecipados sofrem a chamada marcação a mercado. Isso quer dizer que o investidor que faz o saque antes do vencimento perde o rendimento contratado e é obrigado a aceitar o que o mercado estiver pagando pelo título no momento do saque.

Não precisar mexer no investimento é a melhor forma de fugir desse prejuízo. Por isso que a base de um plano de investimento deve começar por uma reserva de emergência constituída por uma ou mais aplicações que possam ser resgatadas rapidamente e sem a perda do rendimento. É a chamada liquidez diária.

CDBs e Tesouro Selic costumam ser os mais recomendados para essa situação devido à sua previsibilidade. Eles pagam rendimentos calculados sobre os juros vigentes.

Curvas de juros em declive também despertam interesse no mercado de renda variável e o momento ainda é considerado favorável para isso, segundo Camila Abdelmalack, da Veedha

Apesar da forte valorização nos últimos dias, com a Bolsa de Valores tendo passado dos 112 mil pontos na sua melhor semana desde novembro de 2020, a economista considera que há oportunidades de entrada em ações consideradas descontadas.

Investir na Bolsa é mais adequado para pessoas com visão de longo prazo, dispostas a suportar períodos de volatilidade. Mas nem por isso deixa de ser uma possibilidade para alternar investimentos.

“O segredo de uma carteira de sucesso ou que não traga desgosto é a diversificação”, afirma.

Zucchi, fixa da

“Aqui no Brasil é sempre muito complicado apostar contra a inflação”

Economia

pt-br

2022-08-16T07:00:00.0000000Z

2022-08-16T07:00:00.0000000Z

https://folhadelondrinadigital.pressreader.com/article/281874417191902

Folha de Londrina