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As linhas invisíveis no Norte do Paraná e os príncipes

Novas evidências permitem reinterpretar os significados de linhas invisíveis, esquecidas, perdidas ou intencionalmente apagadas, no Norte do Paraná. Marcaram as frentes pioneiras. Resultado de ideais, esperanças, afirmações e glórias. Seguem alimentando mitos e lendas.

As terras da Companhia de Terras Norte do Paraná - CTNP - foram resultado de anexações sucessivas. Tal fato possibilitou a incorporação de duas ferrovias de concessão: EFCP ajustada (transferida da Cia Marcondes para a CTNP, 1925) e CFSPP (CTNP, 1928).

A complexa sobreposição já foi considerada um “imbróglio”. Desatar essas linhas. Lugar de experimentos iniciais e decisivos de planejamento e projetos de patrimônios da CTNP. Definiram as bases da paisagem norte-paranaense.

“Os Príncipes Ingleses no Norte do Paraná!” Anunciavam jornais no final de março de 1931. Estava prevista excursão para “percorrer as obras em construção da Companhia Ferroviária São Paulo Paraná CFSPP”. “O patrimônio da Companhia CFSPP conta com três núcleos de colonização: um de colonos alemães, denominado “Haimenthal”, outro de japoneses e finalmente um de brasileiros”. E, detalhava: “Haimenthal já possuí 68 famílias de alemães, o de japoneses em franco desenvolvimento e o de brasileiros, em início, porém já em grande andamento”.

Os visitantes chegaram de trem até Cornélio Procópio. Dali, de automóvel seguiriam a Jatahy. Por conta de vários imprevistos, a excursão final não foi realizada. Seria simbólica, de apenas um dia.

Vale analisar os “três núcleos de colonização”. Experiências da CFSPP/CTNP. Resultado das observações diretas das missões britânicas e de diretores da Companhia às ferrovias e colônias em São Paulo. Especial atenção foi dada à Cia Lumber e à Cia Marcondes. O planejamento e prática atendendo decretos de concessão de terras e ferrovias.

Os locais da excursão ficavam junto à “Nova Divisa de Terras da CTNP”. Cruzamento de duas ferrovias projetadas: EFCP ajustada (1925) e CFSPP (CTNP, 1928). Uma faixa de terras de 3 quilômetros de largura que ia do ribeirão das Abóboras até o ribeirão Limoeira e ribeirão Tres Boccas. Fazia parte da concessão Beltrão (1924), cujo caminhamento foi finalizado em 1927. Nesse mesmo ano, Beltrão concluiu a medição oficial, agora das terras da CTNP.

A faixa de terras ia da atual avenida Rio Branco até a continuação da avenida Angelina Vezozzo. Ali estava previsto, o pouco conhecido ramal 2 da EFCP ajustada (CTNP, 1925). Ligava Rio Bom, afluente do Ivaí a São Salvador, nas margens do rio Paranapanema (Yamaki, 2017).

Terras transferidas, medição realizada, previsão do ramal ferroviário Norte Sul e Leste Oeste. Eram condições favoráveis ao grande plano de colonização.

Um parêntesis. Existe confusão na utilização dos termos: núcleo colonial e patrimônio. Segundo o Decreto de Colonização (1907), um Núcleo Colonial deveria abrigar mais de 50 famílias num raio máximo de 12 quilômetros. Ter uma sede ou patrimônio.

A “Colônia Haimenthal” era a Sede do Núcleo Colonial Heimtal. Tinha como eixo o ramal 2 da EFCP. O outro “núcleo de colonização” era a Seção numero 1 ou “Dai Ikku”, de imigrantes japoneses. Próximo do Patrimônio Três Boccas, Hotel e Escritório da CTNP. Seguia o ribeirão Limoeiro.

Agrupar grupos de imigrantes com sistema de organização próprio era uma estratégia. Facilitava a administração, a educação e a manutenção de estradas.

Finalmente, o “núcleo de colonização de brasileiros” citado no jornal. Em 1930, existiam lotes vendidos nas glebas “londrinos” e “patrimônio Londrina”. Recentemente, identificamos o projeto do Patrimônio Três Boccas junto à Nova Divisa de Terras CTNP.

Os três núcleos representam experimentos iniciais de todo o empreendimento CTNP. Hoje esquecidos e invisíveis. Recuperar lugares de significado. Potencial Parque da “Nova Divisa CTNP”. Humberto Yamaki é arquiteto em Londrina

Agrupar grupos de imigrantes com sistema de organização próprio era uma estratégia

Opinião

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2022-12-21T08:00:00.0000000Z

2022-12-21T08:00:00.0000000Z

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